top of page

Ergotioneína, a vitamina da longevidade!


Você sabe o que é ergotioneína? Trata-se de aminoácido sintetizado por fungos, com propriedades antioxidantes, que atua em praticamente todas as células do nosso corpo!


Claro, você já deve ter ouvido falar em diversos compostos que prometem saúde e longevidade, mas acredite, a ergotioneína é diferente de tudo que você já viu antes! Nesse texto, eu te convido a explorar comigo esse composto fascinante que parece ter implicações profundas na nossa saúde.


Vamos falar de ciência?


Descoberta há mais de um século, a ergotioneína tem chamado a atenção da comunidade científica nos últimos anos devido à sua composição química única. Essa molécula atua em praticamente todos os nossos tecidos e órgãos, incluindo locais onde nenhum outro antioxidante tem ação!


Em 2005 os receptores de ergotioneína foram identificados pela primeira vez, e hoje sabemos que eles se expressam no sistema nervoso central, na retina, em glândulas endócrinas, no pulmão, no sistema gastrointestinal, no fígado, nos rins, nos órgãos reprodutores, no músculo, no tecido adiposo, no sistema linfático e no endotélio.


A abundância desses receptores leva ao entendimento de que a ergotioneína tem diversas implicações metabólicas. De fato, estudos observam que baixos níveis plasmáticos desse composto são associados com condições como Parkinson, doença de Crohn, disfunções cognitivas e fragilidade, ao mesmo tempo em que níveis adequados são associados com um menor risco cardiovascular e uma menor taxa de mortalidade (1).


Ergotioneína no desenvolvimento humano


Estudos observam a presença de ergotioneína no sangue, na urina e no cérebro de recém-nascidos e crianças. Receptores desse aminoácido se expressam nas glândulas mamárias de humanos e ele é encontrado no leite materno (2,3). Precisamos de mais estudos, mas é plausível que a ergotioneína seja essencial na diferenciação neural durante o crescimento e maturação do cérebro. Quer saber mais sobre a nutrição durante a infância? Clique aqui!


As diferentes ações da ergotioneína


Como citado no começo desse texto, a ergotioneína é um potente antioxidante que atua nas mais diversas regiões do nosso corpo, incluindo locais onde outros antioxidantes não têm ação (o que é absolutamente fascinante).


Esse aminoácido promove diferenciação de células-tronco neurais, podendo ser importante no desenvolvimento e manutenção do sistema nervoso central, atua na síntese de células vermelhas do sangue e tem implicações no sistema imune (4-6). Estudos em animais ainda sugerem que a ergotioneína exerce efeitos protetores no pulmão, endotélio, pele, retina e no sistema reprodutor (7-9). Esses efeitos são tão impactantes que alguns autores têm discutido classificar a ergotioneína como uma vitamina, ou seja, um nutriente essencial!


Ergotioneína e longevidade


Como se não bastasse o que discutimos até aqui, o melhor vem agora! Os afeitos mais fascinantes da ergotioneína estão envolvidos na sua capacidade de retardar o envelhecimento!


Para entender melhor vamos definir o que causa esse fenômeno que chamamos de envelhecimento. A primeira teoria foi apresentada em 1956, postulando a ideia de que o envelhecimento é causado pelo estresse oxidativo que leva a degradação gradual e exponencial de tecidos e órgãos (10).


Essa teoria se provou válida em inúmeros estudos, mas hoje sabemos que o estresse oxidativo tem origem em disfunções nas nossas mitocôndrias, organelas responsáveis pela produção de energia (11).


E é aí que entra a nossa amiga ergotioneína, porque ela é capaz de atravessar a barreira mitocondrial e atuar como antioxidante no interior dessa organela, potencialmente prevenindo o envelhecimento em sua origem (12).


Outro ponto importante no envelhecimento é o processo neurodegenerativo que parece ser quase que inevitável em idades avançadas. A ergotioneína é o dos únicos antioxidantes capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, se distribuindo nos nossos neurônios e exercendo efeitos neuroprotetores (13). Estudos, de fato, observam que o consumo regular de alimentos ricos em ergotioneína, é associado com uma redução significativa no declínio cognitivo em humanos (14).


Existem ainda outros mecanismos que justificam a associação da ergotioneína com longevidade (dos quais eu não vou me aprofundar para evitar complicar ainda mais esse texto). Ela parece favorecer a autofagia, prevenir a formação de células senescentes e otimizar a reparação do DNA (15).


Fontes alimentares de ergotioneína e doses recomendadas


Agora que você entendeu, mesmo que parcialmente, os benefícios incríveis desse composto, vamos falar onde encontramos ergotioneína e qual é a quantidade que você precisa consumir.


Como eu citei logo no início desse texto, a ergotioneína é um aminoácido sintetizado por fungos (e algumas bactérias, mas para simplificar vamos ignorar essa informação), logo, as principais fontes alimentares são cogumelos.


Entre as mais diferentes espécies de cogumelos, os mais ricos nesse composto são o Shitake e os cogumelos ostra (16). A quantidade que parece ser eficaz é algo na faixa de 300g de cogumelos por semana (ou 45 gramas por dia).


Outro alimento rico nesse composto é o tempê (17), um derivado da soja fermentado por fungos, oferecendo uma quantidade moderada, mas suficiente (você precisa consumir algo na faixa de 85 gramas de tempê por dia). Também encontramos ergotioneína em alimentos como grãos integrais, feijão, alho e brócolis, mas a quantidade parece ser muito pequena para exercer qualquer benefício.


Conclusões e dicas


A ergotioneína é um dos compostos mais fascinantes no meio da nutrição, com inúmeras implicações de saúde, incluindo efeitos que nenhum outro composto é capaz de exercer! Diante disso, é plausível que esse aminoácido venha a ser considerado um nutriente essencial e seja classificado com uma vitamina, talvez a vitamina da longevidade!


Dicas:


  • Inclua boas fontes de ergotioneína na sua dieta, especialmente cogumelos;

  • Consuma algo na faixa de 300g de cogumelos por semana;

  • Dê preferência para os cogumelos Shitake ou ostra, já que são os mais ricos nesse composto;

  • Você também pode incluir tempê na sua dieta, algo na faixa de 85g/dia.



 

Conteúdo por: Cláudio Bender | Nutricionista | CRN: 17268


Referências:


1.Cheah, I. K., & Halliwell, B. (2021). Ergothioneine, recent developments. Redox biology, 42, 101868.


2.Kwok, B., Yamauchi, A., Rajesan, R., Chan, L., Dhillon, U., Gao, W., ... & Ito, S. (2006). Carnitine/xenobiotics transporters in the human mammary gland epithelia, MCF12A. American Journal of Physiology-Regulatory, Integrative and Comparative Physiology, 290(3), R793-R802.


3.Halliwell, B., Cheah, I. K., & Tang, R. M. (2018). Ergothioneine–a diet‐derived antioxidant with therapeutic potential. FEBS letters, 592(20), 3357-3366.


4.Ishimoto, T., Masuo, Y., Kato, Y., & Nakamichi, N. (2019). Ergothioneine-induced neuronal differentiation is mediated through activation of S6K1 and neurotrophin 4/5-TrkB signaling in murine neural stem cells. Cellular signalling, 53, 269-280.


5.Nakamura, T., Sugiura, S., Kobayashi, D., Yoshida, K., Yabuuchi, H., Aizawa, S., ... & Tamai, I. (2007). Decreased proliferation and erythroid differentiation of K562 cells by siRNA-induced depression of OCTN1 (SLC22A4) transporter gene. Pharmaceutical research, 24, 1628-1635.


6.Yoshida, S., Shime, H., Matsumoto, M., Kasahara, M., & Seya, T. (2019). Anti-oxidative amino acid L-ergothioneine modulates the tumor microenvironment to facilitate adjuvant vaccine immunotherapy. Frontiers in immunology, 10, 671.


7.Repine, J. E., & Elkins, N. D. (2012). Effect of ergothioneine on acute lung injury and inflammation in cytokine insufflated rats. Preventive medicine, 54, S79-S82.


8.Ayobami, D. A. R. E., Olaniyan, O., Salihu, M., & Illesanmi, K. (2019). L-ergothioneine supplement protect testicular functions in cisplatin-treated Wistar rats. J. Pharm. Biol. Sci, 14, 6-13.


9.Damaghi, N., Dong, K., Smiles, K., & Yarosh, D. (2008, February). The natural antioxidant L-ergothioneine and its receptor/transporter OCTN-1 participate in the skin's response to UVA-induced oxidative damage. In Journal of the American Academy of Dermatology (Vol. 58, No. 2, pp. AB111-AB111). 360 PARK AVENUE SOUTH, NEW YORK, NY 10010-1710 USA: MOSBY-ELSEVIER.


10.Harraan, D. (1955). Aging: a theory based on free radical and radiation chemistry.


11.Barja, G. (2014). The mitochondrial free radical theory of aging. Progress in molecular biology and translational science, 127, 1-27.


12.Lamhonwah, A. M., & Tein, I. (2006). Novel localization of OCTN1, an organic cation/carnitine transporter, to mammalian mitochondria. Biochemical and biophysical research communications, 345(4), 1315-1325.


13.Ishimoto, T., & Kato, Y. (2022). Ergothioneine in the brain. FEBS letters, 596(10), 1290-1298.


14.Feng, L., Cheah, I. K. M., Ng, M. M. X., Li, J., Chan, S. M., Lim, S. L., ... & Halliwell, B. (2019). The association between mushroom consumption and mild cognitive impairment: a community-based cross-sectional study in Singapore. Journal of Alzheimer's Disease, 68(1), 197-203.


15.Apparoo, Y., Phan, C. W., Kuppusamy, U. R., & Sabaratnam, V. (2022). Ergothioneine and its prospects as an anti-ageing compound. Experimental Gerontology, 170, 111982.


16.Dubost, N. J., Beelman, R. B., Peterson, D., & Royse, D. J. (2006). Identification and quantification of ergothioneine in cultivated mushrooms by liquid chromatography-mass spectroscopy. International Journal of Medicinal Mushrooms, 8(3).


17.Halliwell, B., Cheah, I. K., & Tang, R. M. (2018). Ergothioneine–a diet‐derived antioxidant with therapeutic potential. FEBS letters, 592(20), 3357-3366.

61 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Obrigado pelo envio!

bottom of page